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Quem manda aqui? O STF, o Presidente ou os Governadores?

9 de abril de 2021

A pandemia causada pelo coronavírus, além do imenso morticínio e do colapso na estrutura da saúde, gerou e intensificou crises no meio político: uma delas é o relacionamento entre o presidente da república, os governadores e os prefeitos.

A forma de condução das medidas de enfretamento à pandemia são o grande motor desta crise, mas ela tem um foco especial: quem tem a legitimidade de estabelecer medidas restritivas de circulação de pessoas, do funcionamento do comércio e, mais recentemente, do funcionamento ou não de templos religiosos?

No dia 15 de abril de 2020 o Supremo Tribunal Federal decidiu que os estados e os municípios (além do próprio governo federal) teriam liberdade de decisão sobre as restrições de atividades e de circulação, acentuando ainda mais o conflito. O principal argumento utilizado pelo STF foi que os entes que compõem a federação possuem autonomia.

Governo central tem mais autoridade?

Simplificadamente, federação é uma forma de Estado (as outras são Estado unitário e confederação), que mantém a autonomia dos entes que a compõe (no caso brasileiro os estados e municípios), mas permitindo intervenção do governo central em suas unidades.

Podemos ter como exemplo de comparação o caso americano. Lá eles também vivem numa federação, porém, os estados possuem uma autonomia maior, tanto na questão tributária, quanto em questões penais. Alguns aplicam a pena de morte, outros permitem o comércio da maconha, outros ainda permitem o aborto e outros não. Questões sobre as quais nenhum estado do Brasil tem autonomia para definir, somente a União.

No modelo americano, antes da constituição da federação, predominava a descentralização. Lá existiam as 13 colônias autônomas, que se uniram e constituíram um governo central. No caso brasileiro, você já tinha um Estado unitário (monárquico) que se descentralizou a partir da república. 

Qual modelo preferimos?

Uma federação pode assumir um caráter mais centrípeto (que busca concentrar mais poder no governo central) ou mais centrifugo (distribuindo mais poder e autonomia às partes componentes).

Aqui que devemos nos perguntar qual destes modelos nós queremos: um que concentre mais ou um que distribua mais? É importante que façamos isso sem necessariamente olhar para quem ocupa os papéis nesse momento, se gostamos ou não do governador, prefeito ou presidente.

Para aqueles que entendem que o presidente deveria ter plenos poderes e que governadores e prefeitos deveriam apenas servir de executores do que foi por ele definido, estão muito perto de defender não uma federação, mas sim um Estado Unitário (como a China por exemplo).

Aqueles que defendem uma total autonomia dos estados e municípios em relação à União, desconsiderando inclusive aspectos de soberania, estão muito perto de defender o separatismo.

Existe meio termo?

Cabe aqui o caminho do meio: fortalecer a autonomia de gestores mais próximos (espacialmente) dos cidadãos, porque os mecanismos de cobrança e fiscalização (Accountability) são mais fáceis. Em um país continental, como o nosso, ter as decisões que impactam nossa vida tomadas por gestores mais próximos, que conhecem melhor as especificidades geográficas e culturais é uma vantagem. Contudo, sem desconsiderar ou enfraquecer a capacidade de coordenação do Governo Federal.

Para funcionar é importante que cada uma das partes respeite os limites e as atribuições de si mesmos e dos outros. Que o presidente seja presidente, que os deputados legislem e fiscalizem, que os governadores e prefeitos cuidem de seus territórios, que o STF se atenha dirimir e arbitrar as dúvidas constitucionais e que os eleitores/cidadãos possam escolher cada vez melhor quem irá exercer estes papeis.

Todos estes atores devem estar cada vez mais atentos em ouvir, a tecnologia nos permite instrumentos para envolver os cidadãos e para que os governos sejam mais responsivos ao que a população deseja.

Por fim, respondendo à pergunta do título, quem manda é o povo e a constituição.

Pesquisas eleitorais deveriam ser proibidas?

7 de abril de 2021

Logo após a divulgação de pesquisas eleitorais, algumas vozes se levantam pedindo sua proibição, ou por considerá-las erradas, ou porque elas influenciariam o eleitor.

Pesquisas de boa qualidade auxiliam o eleitor a estar bem informado e a votar melhor?

O que você pensa a respeito?

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#LulaLivre: Huck? Ciro? Mandetta? Marina? Boulos? Amoedo? Uma terceira via é possível?

2 de abril de 2021

Ao antever o cenário eleitoral de 2022, é muito difícil fugir do prognóstico de que a disputa estará concentrada principalmente entre o ex-presidente Lula (ou um preposto seu) e o atual presidente Bolsonaro. A partir deste fato, a série de artigos abordou primeiro a análise sobre os dois (confira AQUI), porém, nosso sistema não é bipartidário e possibilita que um número maior de concorrentes entre nesta disputa e alimente o sonho de alguns pelo surgimento de uma terceira via.

Mas o que significa “terceira via”?

Antes de seguirmos, vale explicar o sentido da expressão “terceira via”. Ela é aqui utilizada para representar uma alternativa aos polos constituídos/majoritários, uma via para além da dicotomia esquerda e direita. Sendo assim, a categoria não abarca – necessariamente – o conceito de “terceira via” descrita pelo sociólogo Anthony Giddens ou pelo ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

Quais são as condições para o surgimento desta alternativa?

O Instituto Paraná Pesquisas divulgou agora em março uma consulta a respeito de como o eleitor se consideraria. O resultado foi o seguinte:

Os dados nos apontam principalmente duas coisas: 1) os principais candidatos possuem um núcleo duro de apoio bastante consolidado, que pode ser suficiente para levá-los ao segundo turno. 2) mas, também nos mostram que os eleitores “não-apaixonados” representariam um contingente ainda maior (mais do que o dobro deles individualmente).

Além da falta de “paixão” nós temos outros catalisadores para o surgimento destas possíveis alternativas. São eles:

Frustração de cá: parte dos eleitores da centro-direita tiveram suas expectativas frustradas, quanto ao governo, em especial os lavajatistas, que de certa forma se surpreenderam com os movimentos de adesão ao centrão – indicação do Kassio Nunes Marques para a vaga no STF e o expurgo de Sergio Moro. Outros eleitores frustrados são os pró-mercado (vulgo farialimers), que não tiveram suas expectativas de privatizações e reformas atendidas.

Frustração de lá: já na centro-esquerda, a frustração ainda se mantém consistente com aqueles eleitores que já votaram no PT e se sentem traídos pela corrupção que permeou o governo, solapando o discurso de ética manifestado nos tempos de oposição. Outro grupo com rancores elevados é o de outras forças de esquerda que reclama da vocação hegemonista do PT, e só aceitaria a tal propalada frente ampla se ela fosse por eles capitaneada.

O PIB desembarcou?: dia 21 de março foi divulgada uma carta aberta intitulada “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo” (confira a íntegra da carta AQUI), assinada por mais de 500 pessoas, em especial economistas de prestígio, banqueiros e grandes empresários. Mesmo que o presidente não seja citado, as críticas à condução do governo ficam evidentes e transmitem um sinal claro: em havendo opção distinta e competitiva a terceira via pode receber apoio do grande empresariado, que hora já apoiou Bolsonaro.

Teremos uma terceira via?

Sergio Moro (enrolado com o STF e sobre quem escrevi um artigo inteiro que você confere AQUI), Ciro Gomes (que tenta se viabilizar como uma alternativa à Lula dentro da centro- esquerda), Luciano Huck (que segue indeciso se deixa a televisão e os negócios), João Doria (vencedor da guerra das vacinas, mas que precisa pacificar o PSDB), Amoedo (umas das grandes surpresas de 2018, mas que enfrenta problemas internos em seu partido, em especial com os deputados federais do NOVO), Marina Silva (tem dificuldade em sair do 1% de intenção de votos), Mandetta (enfraquecido depois do revés de Rodrigo Maia na disputa da presidência da Câmara dos Deputados) e Boulos (fortalecido pelo desempenho na disputa da prefeitura de São Paulo, disputa com Ciro a preferência da esquerda não petista) são os principais postulantes a protagonizar esta terceira via.

Todos eles enfrentam um grande desafio, caso pretendam construir esta frente ampla: alguém terá que ceder!

Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoedo, João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta assinaram conjuntamente um manifesto em prol da democracia (você confere a íntegra do documento AQUI), o que pode ser um primeiro sinal nesse sentido de união, mas para que esta alternativa seja viável é necessário reduzir a pulverização de nomes e alguns projetos pessoais precisam ser deixados de lado, tornando-se um grande obstáculo, pois demanda a superação de vaidades, por vezes intransponível na política.

Íntegra do “Manifesto pela Consciência Democrática”

2 de abril de 2021

Muitos brasileiros foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O movimento “Diretas Já”, uniu diferentes forças políticas no mesmo palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada.

A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores.

Não há Democracia sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito. Não há prosperidade sem solidariedade.

A Democracia é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, a intimidação, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.

Exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.

Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.

CIRO GOMES, EDUARDO LEITE, JOÃO AMOEDO, JOÃO DORIA, LUCIANO HUCK E LUIZ HENRIQUE MANDETTA.

O que é Centrão na política?

31 de março de 2021

O termo Centrão é comumente usado para designar um grupo de parlamentares que se unem para ampliar sua influência na Câmara Federal e no Senado. O termo não agrada muito aos parlamentares e dificilmente algum deles admite fazer parte desse grupo.

Severino Cavalcante, Eduardo Cunha, Rodrigo Maia e Arthur Lira representam esse grupo? O Centrão existe formalmente? Quais são os seus principais objetivos?

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#LulaLivre: e agora, Sergio Moro?

26 de março de 2021

Tenho analisado nesta série de artigos quais as repercussões no cenário eleitoral de 2022 em razão do retorno da elegibilidade de Lula e, mais recente, da suspeição de Sergio Moro ao conduzir o julgamento. No primeiro texto abordei os impactos para o próprio Lula, e no segundo você conferiu que avaliei os desdobramentos para o presidente Jair Bolsonaro. Já neste artigo abordarei as possibilidades políticas de Sergio Moro.

Antes de avançarmos, quero reforçar que a análise é feita apenas no campo político, não abordarei minucias jurídicas nem a (i)legalidade delas.

Moro construiu inicialmente uma carreira de perfil tecnocrata com posições alcançadas via concurso público, Juiz Federal e professor universitário (UFPR), que lhe garantiam um grau enorme de autonomia. Se antes sua atuação tinha repercussão política, seus atos poderiam seguir uma estratégia de interação com os atores políticos, mas ele estava confortavelmente distante do palco político propriamente dito.

Quando Moro optou em deixar a magistratura e assumir o Ministério da Justiça, cruzou a linha e se tornou, de fato, agente político, tendo que aprender a construir alianças, fazer concessões e receber críticas (sem a toga por proteção e o “cumpra-se” por ferramenta).

Como fica o cenário político para Sergio Moro?

Ataques: desde o início da operação Lava-jato, Sergio Moro sofre inúmeros ataques daqueles que se sentem ameaçados pelas investigações ou dos que enxergavam exageros em sua conduta, entretanto, o juiz sempre contou com um substancial apoio de setores da mídia e da sociedade, o que lhe permitiu seguir adiante, construindo e reforçando sua imagem de combatente da corrupção. Contudo, o que Moro enfrenta agora é muito diferente. O refluxo de suas ações é intensificado por um número maior de opositores diretos ou indiretos (Lulismo + Bolsonarismo + Centrão + STF).

Mídia: parte do sucesso da Lava-jato e de Sergio Moro se deve ao amplo apoio recebido da mídia, como já dito. Ele, inclusive, cita a importância em seu artigo a respeito da operação mãos limpas, porém, este apoio arrefeceu por alguns motivos:

1) Medo que alguns jornalistas têm de serem ligados a ele e ao caso da vaza-jato (o ex-juiz é acusado de articular junto à imprensa o vazamento de informações estratégicas sobre as operações);

2) Desejo de ver enfraquecidos os problemas jurídicos do ex-presidente Lula (por perceber nele o melhor concorrente contra Jair Bolsonaro);

3) Alinhamento com o presidente (que espera vê-lo fora do páreo, diminuindo assim a concorrência pelos votos do antipetismo);

4) Parte da mídia ficou chocada com a explicitação dos métodos utilizados por Moro.

Com isso, sobrou um espaço muito menor de manobra com a mídia, ficando apenas os “lava-jatistas raiz”.

Eleitores: Moro frequentemente aparece como terceiro colocado nas pesquisas, o que faria dele um ótimo candidato para os defensores de uma terceira via, mas as perguntas que devem ser respondidas são: Tendo em vista que, parte da direita enxerga Moro como traidor de Jair Bolsonaro, e parte da esquerda o vê como justiceiro togado, ele conseguirá agregar eleitores dos polos? Terá a habilidade de construir alianças para superar esses vetos?

Votos de Bolsonaro: a pesquisa do Ipec (apresentei no primeiro artigo) aponta que o ex-juiz é quem compartilha o maior número de eleitores com o presidente (algo próximo dos 13%). Significa, portanto, que o maior beneficiado pela ausência de Sergio Moro das eleições é o atual presidente.

Legado: com a saída do Ministério da Justiça, o fim da força tarefa da Lava-jato, a suspeição nos casos do ex-presidente Lula e com as ameaças de ser processado por conta de sua conduta, o ex-juiz fica numa posição cada vez mais acuada. Outrossim, estes mesmos ataques podem servir de mola propulsora para uma eventual candidatura, que além de viável, serviria para defender um legado.

Paladino ou Batman? 57% dos entrevistados pelo Datafolha (março/2021) consideram que Moro agiu corretamente ao condenar o ex-presidente Lula (pesquisa feita antes da decisão do STF sobre a sua parcialidade). O que significa? Que o debate jurídico, tanto da suspeição do Juiz Sergio Moro, quanto da incompetência da 13ª vara federal, inflama os juristas e o judiciário (chegando a dividir de forma acalorada entendimentos no STF) e ao mesmo tempo é tão distante da realidade cotidiana que acaba por reforçar aos leigos a sensação de impunidade.

Talvez a roupa de paladino da justiça não seja mais adequada ao ex-juiz, mas com certeza a imagem de combatente da justiça a qualquer preço (Batman) ainda pode embalar projetos eleitorais.

Resta-nos saber se a experiência em Brasília municiou o ex-juiz de instrumentos e aliados para construir sua candidatura ou se foi um processo tão traumático que o manterá definitivamente afastado desta arena. Ser um ótimo jogador em um campo (judiciário) não garante sucesso em outro (política). Quem aqui se lembra do Pelé cantando?

Sigamos pensando estrategicamente!

O que você acha sobre os pedágios do Paraná?

24 de março de 2021

As concessões de pedágios aqui do Paraná acabam em novembro deste ano e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem feito consultas sobre o modelo que será implantado logo após.

O que você acha dos pedágios? Você prefere um modelo que prevê mais obras e um valor maior ou menos obras e uma tarifa menor?

Participe da Audiência Pública: https://bit.ly/3966HLi

Confira a análise abaixo e deixe o seu comentário.

#LulaLivre: e agora, Jair Bolsonaro?

19 de março de 2021

No artigo anterior abordei alguns aspectos analíticos das possibilidades do ex-presidente Lula no pleito de 2022, após analisar os movimentos ocorridos no STF – a anulação das condenações de Lula, somadas com a possibilidade da suspeição de Moro. Neste texto vamos dar uma olhada no principal concorrente do pleito de 2022, segundo as pesquisas: Jair Bolsonaro.

A entrada de Lula no cenário, agora elegível, afeta bastante o jogo político do atual presidente, pois, diferente de alguns de seus apoiadores, que consideram Lula um adversário fácil de ser batido, Jair Bolsonaro tem clareza que Lula é mais competitivo do que um outro candidato genérico do PT.

Como fica o cenário político de Jair Bolsonaro nesta conjuntura?

– Histórico: no Brasil, nenhum presidente que postulou a reeleição deixou de ser bem-sucedido, nem mesmo Dilma pós manifestações de 2013. Ainda, 2022 pode ser também a primeira vez que um ex-presidente enfrentaria um presidente em candidatura de reeleição.

– Máquina: a capilaridade administrativa do Governo Federal e o acesso ao orçamento (que tende a atrair prefeitos e deputados) são elementos que o então candidato de 2018 não podia contar e agora pode, o que, convenhamos, não é pouco.

– Clareza: com Lula na disputa fica mais claro quem será seu principal opositor, permitindo ao presidente antecipar movimentos e conquistar eleitores mais moderados (já passou inclusive a usar máscara e adotar medidas pró-vacina), pois os mais radicais à direita tendem a aderir quase que automaticamente pelo sentimento de antipetismo.

– EUA: com a derrota de Donald Trump, além de perder o apoio (mesmo que simbólico) dos EUA, o presidente também amarga um prenúncio ruim, pois ambos compartilhavam agendas e métodos em comum. O revés de um pode significar um caminho mais árduo para o outro.

Força política: seus aliados ganharam as mesas diretoras da Câmara Federal e do Senado. Os partidos do centrão que participaram da vitória da direção do Congresso também foram vitoriosos nas eleições municipais. Dos 14 partidos que tiveram acréscimos de prefeituras em 2020 (em relação a 2016), 9 estavam no bloco de apoio ao deputado Arthur Lira, esse número sobe para 10 se considerarmos o DEM, já que mesmo não formalizando adesão ao bloco, liberou seus deputados para votar no candidato do governo o que inclusive gerou uma crise com o deputado Rodrigo Maia.

Bolsonaro está derrotado?

Para aqueles oposicionistas mais animados, que sistematicamente afirmam que o presidente já está derrotado, vale uma dose redobrada de cautela, pois ele é, antes de mais nada, um sobrevivente, conseguindo reverter situações desfavoráveis e tirar proveito delas. Exemplos: em 2018, quando sem coligação partidária cravaram sua inviabilidade eleitoral; nas acusações em relação ao Queiroz/Flávio, cujas investigações vem perdendo força; na saída do ministro Mandetta (incluindo a forma de gerir o enfrentamento a pandemia); na saída do ministro Moro; e na questão do auxílio emergencial.

Alguns analistas já foram categóricos em cravar a sua derrocada, mas ele sempre conseguiu manter seu núcleo duro de apoiadores unidos e aquecidos. A própria pesquisa DataFolha, divulgada em 17/03/2021, mostra uma estabilidade na faixa de 30% de favoráveis.

Outro aspecto importante na distinção entre Lula e Bolsonaro é a pauta de costumes que pode ser determinante para alguns setores. Os evangélicos são proporcionalmente o setor onde o apoio ao presidente alcança os melhores percentuais. Em 2018, por exemplo, mais de 70% (segundo pesquisa do DataFolha de 18/out/2018) declararam que votariam nele no segundo turno.

Devemos estar atentos a um outro fator que tende a impactar o pleito de 2022 e se converter em vantagem para o presidente: a questão do comparecimento, o votar de fato. Por ter uma postura aguerrida e seu eleitor ter um vínculo emocional tão intenso com ele, a motivação de comparecer para votar é maior. Claro que por gerar sentimentos tão fortes a rejeição tende a ser grande fator motivacional de comparecimento também para a oposição, algo que também vimos nas eleições americanas.

Esta análise não termina aqui. Temos ainda outros atores para acompanhar: o papel do ex-juiz Sérgio Moro e de outros possíveis competidores, como Huck, Mandetta, Marina, Ciro e etc.

Não se enganem: por mais que o cenário esteja ficando mais delimitado, nada ainda está solidificado.

Até a próxima semana!

STF exercendo papel político?

17 de março de 2021

O Supremo Tribunal Federal (STF) encontra-se no topo da hierarquia do Poder Judiciário, mas vem exercendo um papel incomum ultimamente.

#LulaLivre: e agora?

12 de março de 2021

A semana começou bastante agitada, com reviravoltas jurídicas de repercussões tanto no presente, quanto no cenário de 2022. Quero conversar com vocês sobre o que é possível antever dos movimentos desencadeados a partir dos seguintes fatos: 1) decisão do ministro Fachin que anulou as decisões referentes ao ex-presidente Lula em suas condenações no âmbito da operação Lava-Jato; e 2) votação da segunda turma do STF, presidida pelo ministro Gilmar Mendes, referente a suspeição do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro.

A análise se dará no aspecto político/eleitoral. Não entrarei, portanto, nas minúcias judiciais.

Para delimitar melhor o que devemos olhar, vale estabelecer quais os atores e seus respectivos “tamanhos” neste tabuleiro. Partindo das pesquisas eleitorais, divulgadas agora em março, o cenário das intenções de voto se apresenta da seguinte forma:

À título de informação, as pesquisas da CNN/RealTme Big Data e do Paraná Pesquisas têm metodologias parecidas, sendo feitas por telefone. Já do Ipec tem duas distinções importantes: foi efetuada por coleta presencial e apresentou os dados agregados de duas perguntas – “votaria com certeza” + “poderia votar” –, por isso a soma ultrapassa os 100% e os números assumem esta dimensão tão distinta.

Para evitar um texto demasiadamente longo (como foi o voto do Gilmar Mendes ou a fala do Lula), separo a análise em 4 tópicos: E agora, Lula?; E agora, Bolsonaro?; E agora, Sergio Moro?; e Temos outras alternativas?. Este artigo tratará do primeiro tópico.

E agora, Lula?

Com os movimentos ocorridos nesta semana, o ex-presidente se encontra elegível a qualquer cargo público, ou seja, está apto a disputar as eleições presidências em 2022. Mesmo que seu processo seja retomado pela Justiça Federal do Distrito Federal, como determinou Fachin, deve permanecer apto, pois dificilmente terá condenações em duas instâncias em tempo hábil para impedir o registro de sua candidatura.

Sem dúvidas Lula e o PT foram os maiores beneficiados com os movimentos do STF (Fachin + Gilmar Mendes). Explico:

Livre, leve e solto: enquanto Lula estava preso, seu candidato, Fernando Haddad, perdeu por uma diferença pouco maior do que 10%. Com ele em campo, a diferença tende a ser menor, seja como candidato ou atuando apenas como articulador e cabo eleitoral.

Oposição: durante estes pouco mais de dois anos, o PT fez uma oposição tímida ao governo, muito diferente do que foi com FHC, por exemplo. O partido de certa forma se encontrava “preso” junto com o ex-presidente e suas energias concentradas no “Lula Livre”. Com o objetivo alcançado, o partido provavelmente mudará o tom na oposição, endurecerá e Lula tende a ser o grande porta-voz desta virada.

– Polo: desde a redemocratização, o PT conseguiu ser um dos principais polos na disputa eleitoral, alcançando sempre o segundo turno das eleições presidenciais que disputou (com exceção das eleições que FHC disputou 1998, em que não teve segundo turno).

– Maior: Lula é muito maior que o PT, nem todo eleitor que vota em Lula votou ou votaria num preposto por ele indicado. Um exemplo é a consulta efetuada pela Paraná Pesquisa, em que Lula aparece com 18%, mas se o candidato fosse o Haddad cairia para 10,8%.

Contudo, nem tudo são flores. Existem algumas questões que colocam em dúvida ou, pelo menos dificultam, a candidatura de Lula:

– Idade: pesa sobre ele a idade (75 anos) e os problemas de saúde que ele já superou, mas que sempre cobram um preço na disposição e vigor. Fazer campanha num país continental como o Brasil requer muito folego.

– Moral: mesmo que não possua mais condenações, moralmente ele ainda está bastante desgastado. Deverá assumir um discurso de injustiçado, para tentar mitigar esta percepção, porém, segundo levantamento da Paraná Pesquisa, 57,5% das pessoas consultadas discordam da anulação das condenações que pesavam sobre ele.

Com que roupa?: para dimensionar melhor a viabilidade eleitoral de Lula, é fundamental sabermos qual candidato irá se apresentar (lembremos que ele é uma metamorfose ambulante). Ele vai vestir o Lula mais radical de 1989 e 2018, bastante focado na luta de classes (nós contra eles), ou o Lula de 2002 da “Carta aos brasileiros” e da conciliação nacional? Penso que o Lula de 2002 é mais viável eleitoralmente, mas os rancores de ter ficado 580 dias preso irão permitir, pelos sinais que emitiu no discurso proferido no sindicato dos metalúrgicos, que será mais provável a versão “paz e amor”.

Diante desta análise não podemos afirmar que Lula teria ressuscitado, pois nunca esteve morto, mas com certeza vem reenergizado e com plenas condições de ser um protagonista no pleito de 2022, mas não o único.

Nos próximos artigos iremos falar sobre os demais tópicos: E agora, Bolsonaro?; E agora, Sergio Moro?; e Temos outras alternativas?.

Sigamos juntos, pensando estrategicamente.

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