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CPI: podem estar querendo nos manipular através do excesso de informação?

4 de junho de 2021

Após o término do BBB, outro “reality show” tem chamado nossa atenção: a CPI da COVID – uma Comissão Parlamentar de Inquérito formada para apurar se houve falhas por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia. Eu já expliquei num vídeo curto o que é uma CPI (você pode assistir AQUI) e pretendo abordar de forma mais aprofundada os desdobramentos políticos que devem decorrer dela. O tema que abordo aqui é de cunho comunicacional, ou melhor, informacional, pois tudo que tem sido feito na CPI está diretamente ligado com o impacto que irá gerar nas comunicações, tanto de um a lado (pró-governo) quanto de outro (oposição).

Estamos sofrendo uma Infodemia?

A avalanche informacional e monotemática gerada pela CPI tem inundado nossas redes sociais, telefones, televisões, jornais e revistas. Informações com qualidade bastante diversa, desde mentiras explícitas até dados baseados em evidências científicas e, entre estes dois polos, inúmeras nuances.

Esta avalanche caracteriza a “infodemia” – uma difusão de grande quantidade e variedade de informações de credibilidade diversa que prejudica o reconhecimento e a compreensão dos fatos reais. É importante ter claro que ela não ocorre de forma espontânea, normalmente é produzida e alimentada por grupos de interesse que se beneficiam dela (governos, empresários, grupos políticos, até mesmo outros países) e procuram desestabilizar politicamente um adversário, enfraquecer a imagem de um país e de sua economia ou simplesmente vender esse ou aquele fármaco ou produto.

Esta crise tornou mais evidentes alguns mecanismos pelos quais a infodemia funciona:

– Gatilhos emocionais: atua em situações de emoções extremas, ansiedade e medo no caso da saúde, paixões e hooliganismo no caso de eleições;

– Efeito manada: para que a infodemia funcione é necessário criar um sentimento de grupo e pertencimento em apoio a determinada mensagem, geralmente potencializado por robôs nas redes sociais;

Mensagens de fácil compreensão, com encadeamento lógico e simples, causando proliferação de fakenews e desinformação: normalmente as mensagens se valem de memes ou frases de efeito de compreensão quase que imediata, com capacidade restrita de verificação e que citam algumas vezes cientistas desconhecidos, podendo induzir a percepção de conspirações.

Estes elementos caracterizam uma infodemia, mas são típicos também das PsyOps, as chamadas guerras psicológicas muito utilizadas pelo Exército Americano e pela CIA. É uma estratégia de inserir muito ruído para desviar a atenção das pessoas da comunicação verdadeiramente relevante. A preocupação com a desinformação é tão grande que os maiores geradores de conteúdo – google, facebook e twitter – já adotam estratégias de checagem de informações e de alertas aos seus usuários.

A CPI continuará gerando, explicitando e repercutindo uma grande quantidade de informações. Resta-nos estar atentos para que não sejamos peça/parte na estratégia política ou de negócios de ninguém. Não nos iludamos, ninguém ali é ingênuo, nem os senadores nem os depoentes.

Nesta era de abundância de informação é nossa responsabilidade separar o joio do trigo, filtrar as informações recebidas e ter o senso crítico sempre ativo.

O Partido de Bolsonaro

14 de Maio de 2021

Estamos a pouco mais de 17 meses para as eleições de 2022, mais especificamente, para o dia da votação, pois o prazo para o início da campanha eleitoral é ainda menor. Todos aqueles que planejam ser candidatos já estão se organizando de alguma forma ou outra, buscando apoio financeiro e político, melhorando aspectos de comunicação e marketing, preparando logística de equipes, materiais e escolhendo/buscando um partido político.

Para aqueles que já ocupam cargo e buscam reeleição, conseguir reunir estes elementos é menos complexo do que para aqueles que estão sem mandato.

É possível concorrer as eleições sem filiação partidária?

A escolha de um partido é um aspecto fundamental, sem o qual não se disputam as eleições no Brasil.

Na eleição anterior, Bolsonaro iniciou sua “pré-campanha” sem ter um partido definido e acabou concorrendo ao final por um partido muito pequeno e que imaginou conseguir deter o controle, o PSL. Após as eleições ele se viu cercado por escândalos a respeito de candidaturas laranja e o mau uso do fundo partidário e eleitoral. Para piorar, o presidente do partido, Luciano Bivar, não cedeu totalmente o mando do partido como esperavam o agora eleito Bolsonaro e seus filhos. A questão se agravou tanto que acabou resultando na desfiliação do presidente.

E até o momento o presidente da república está sem filiação partidária. A escolha dele terá um peso enorme, ainda mais numa disputa que tende a ser bastante acirrada.

Bolsonaro sendo disputado pelos partidos?

Muitos partidos que comporiam o chamado centrão têm convidado o presidente para se filiar. Eles estariam de olho na grande quantidade de votos de legenda que Jair Bolsonaro pode amealhar. Eles esperam uma repetição (em escala menor) do que ocorreu em 2018, quando o PSL conseguiu sair de 1 deputado para 52 eleitos para a câmara federal, agregando, consequentemente, uma maior participação do fundo partidário. Os principais partidos que têm buscado atrair o presidente são o PTB de Roberto Jeferson e o PP de Arthur Lira e Ricardo Barros, respectivamente, presidente da Câmara e líder do Governo.

Por mais que os dois partidos atuem como aliados neste momento, a fidelidade deles não tende a ser orgânica, como esperaria Bolsonaro, e o fantasma “PSL” ainda o assombra. Uma possível solução é a possibilidade de filiação ao PRTB (partido do vice-presidente Hamilton Mourão), que perdeu recentemente seu presidente Levy Fidelix (falecido em decorrência do COVID-19). A negociação ocorre com os filhos e com a viúva de Levy (afinal muitos partidos no Brasil funcionam quase como negócios familiares) e tende a resultar na mudança de nome do PRTB, que passaria a se chamar ALIANÇA ou Aliança pelo Brasil.

A escolha por um (centrão) ou outro caminho (PRTB) representa impactos diferentes. Enquanto o primeiro garantiria maior capilaridade, estrutura política e talvez um arco de alianças maior, o segundo lhe assegura maior garantia de controle sobre as estruturas partidárias, com Jair Bolsonaro e seus filhos como maiores caciques. Pelo comportamento pregresso, tendo a crer que a escolha se dará pela maior capacidade de controle.

Aguardemos o desenrolar de mais este capítulo da política nacional, que com certeza impactará a política nos estados. Afinal, muitos políticos locais desejam estar no mesmo partido que o Presidente e surfar a onda que por ventura ele venha a gerar.

Sigamos juntos pensando cada vez mais estrategicamente.

Danilo Gentili: presidente do Brasil?

7 de Maio de 2021

O cenário político brasileiro é uma sucessão de novidades e movimentos inesperados, que não tem como nos permitir o tédio. Como prova disso, a pesquisa do IPE (Instituto de Pesquisas e Estratégias), encomendada pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e divulgada no dia 4 de abril de 2020, nos mostrou o humorista e apresentador Danilo Gentili com 4% de intenção de votos para o cargo à presidência – tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e Luciano Huck. Lula (36%) e Bolsonaro (31%) seguiam como líderes na pesquisa.

É sério ou é piada?

A primeira reação de alguns analistas políticos foi considerar essa candidatura uma piada e, de fato, é uma candidatura inusitada, mas está longe de ser uma mera piada. Explico o porquê:

Caminho aberto: a provável saída de Luciano Huck da disputa (teria renovado seu contrato com a Rede Globo); a baixa probabilidade de Sergio Moro levar adiante sua candidatura; e o Partido Novo sofre com brigas internas e Amoedo (fundador do partido) já admite a possibilidade de não lançar candidatura – são fatos que fazem Danilo Gentili ter o caminho aberto para ser um dos principais protagonistas no campo da Direita na disputa eleitoral de 2022.

– Sérgio Moro: em sua coluna (09/04), mantida na revista Cruzoé, o ex-juiz afirmou que, caso Danilo se candidatasse, votaria nele. Convenhamos que é um apoio de peso e significaria uma reedição da aliança dos lavajatistas e do MBL.

MBL 1 (política): o Movimento Brasil Livre é um dos grandes incentivadores da candidatura de Danilo Gentili. Após eleger 4 deputados federais e 2 senadores em 2018, com um novo modelo de atuação em 2020 ao disputar a eleição para prefeito de São Paulo, o MBL deu um passo além de buscar cadeiras no legislativo, e foi razoavelmente exitoso. A candidatura de Arthur do Val (Mamãe Falei) contava com apenas 17 segundos no horário eleitoral e começou com apenas 1% de intenção de votos (pesquisa IBOPE de 01/out/20), mas terminou a eleição com 9,78% dos votos, garantindo a quinta colocação naquele pleito, com uma diferença de menos de 1% para Celso Russomanno (10,5%) e aproximadamente 3% para o ex-governador Marcio França (13,64%) – nomes que contavam com muito mais apoio e estrutura.

MBL 2 (comunicação): a forma de se comunicar do MBL (utilizando memes e referências satíricas) tem alcançado um público que muitas vezes foge do debate público tradicional, parte por não entender e parte por achar “chato”. Além da forma, o MBL domina a técnica necessária para amplificar suas mensagens. Poucas organizações políticas compreendem tão bem os algoritmos das redes sociais como eles.

– Milhões: Danilo Gentili possui mais de 8 milhões de seguidores no Instagram, quase 17 milhões no Twitter e 12 milhões no Facebook, com um engajamento alto. Com isso, pessoas voluntariamente estão aderindo ao “projeto” #DaniloGentili2022.

Num ambiente político tão polarizado quanto o nosso, com debates pouco aprofundados, contar com canais mais diretos de comunicação com as pessoas é uma tremenda vantagem. Com sua capacidade pessoal, somada a do MBL, pode levar um contingente grande de jovens a se engajar na sua candidatura, grupo que normalmente não se motiva a participar da política.

– Jair Bolsonaro: o atual presidente seria um dos maiores prejudicados com essa possibilidade, pois teria um candidato disputando com ele os votos no campo da direita e, principalmente, alguém com uma grande identificação com o antipetismo e que também domina o campo digital.

À título de curiosidade vale lembrar que tanto Bolsonaro quanto Danilo começaram a ter reconhecimento nacional graças ao extinto CQC.

Pensando bem…

O caminho para 2022 é longo, mas o cenário fica cada vez mais claro. Devemos estar atentos para garantir que os rumos do Brasil sejam bem conduzidos. Para quem ainda considera um absurdo levar a sério as chances de Danilo, ficam as lembranças de Volodymyr Zelenskiy, também comediante, que se elegeu presidente da Ucrânia em 2019; de Beppe Grilo, outro comediante e fundador do Movimento 5 Estrelas (um dos 3 maiores partidos da Itália); e do presidente Jair Bolsonaro, não levado a sério em 2018.

Mas nem tudo são flores… Danilo Gentili enfrenta desafio semelhante ao de Luciano Huck: deixar o conforto de uma posição bem remunerada como apresentador versus as incertezas da disputa eleitoral. Resta-nos saber o que ele irá decidir e observar atentamente se essa história terá graça ou não.

Vamos fiscalizar os políticos?

5 de Maio de 2021

O voto nas eleições é uma participação política muito importante, mas não para por aí… É preciso acompanhar se o que foi proposto na campanha está sendo cumprido. Cobrar as ações e ética do seu candidato também é um processo da democracia.

Hoje em dia as redes sociais facilitam na fiscalização, mas existem canais oficiais que podem contribuir com isso também.

Dê o play e confira quais são esses meios de fiscalização.

Ministros do STF podem sofrer impeachment?

24 de abril de 2021

Mesmo não entrando em detalhes, a Constituição Federal de 1988 indica, em seu artigo 52, inciso II, que os ministros poderão SIM ser julgados pelo Senado. Os crimes de responsabilidade no caso são citados na Lei nº 1.079, de 1950:

1- alterar, por qualquer forma, exceto por via de recurso, a decisão ou voto já proferido em sessão do Tribunal;

2 – proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na causa;

3 – exercer atividade político-partidária;

4 – ser patentemente desidioso no cumprimento dos deveres do cargo;

5 – proceder de modo incompatível com a honra dignidade e decoro de suas funções.”

Quais seriam as etapas deste impeachment?

Denúncia: o processo começa com uma denúncia, que pode ser realizada por qualquer cidadão, desde que seja fundamentada, para então ser direcionada ao Senado – diferente do processo de impeachment contra o Presidente da República, que tem início na Câmara Federal.

Sendo assim, cabe ao presidente do Senado a decisão pelo recebimento e eventual prosseguimento da denúncia. E como não há prazo regulamentado, ele possui bastante liberdade nesta etapa.

Parecer: o presidente é subsidiado por uma análise jurídica do corpo técnico do Senado, através de um parecer, usualmente acolhido. Caso se decida pelo prosseguimento do processo, é realizada a leitura do parecer na sessão seguinte e se constitui uma comissão especial para estudar o caso. O acusado terá direito a uma primeira defesa e, por fim, a comissão apresenta um parecer final sobre a denúncia que, se for aprovado, resultará no afastamento temporário do ministro.

Julgamento: neste cenário temos o julgamento propriamente dito, em que a defesa e acusação terão a oportunidade de apresentar seus argumentos, inquirir testemunhas e debater os pontos levantados em uma sessão especialmente convocada para esta instrução. A sessão é conduzida pelo presidente do STF e deve contar com a presença de pelo menos 54 senadores (dois terços do total).

Por fim, tanto o ministro acusado quanto seu denunciante devem se retirar da sessão para que os senadores possam deliberar, sendo necessário que pelo menos 54 senadores julguem o ministro culpado pelo crime de responsabilidade.

Se considerado inocente, será restabelecido em suas funções. Caso contrário, será afastado permanentemente.

É provável que algum ministro sofra esse tipo de processo?

Não. Mesmo que esta pauta ressurja a cada nova intervenção mais contundente ou decisão em assunto polêmico, mesmo que ela tenha perpassado o diálogo vazado entre o presidente da república e o senador Kajuru, em que Bolsonaro sugere um processo de impeachment ao ministro Roberto Barroso, a probabilidade disso ocorrer com qualquer ministro é muito pequena.

Atualmente, existem 10 pedidos de impeachment relacionados a membros do Supremo Tribunal Federal: 9 deles direcionados a ministros individualmente e 1 à corte como um todo. O recordista de processos é o ministro Alexandre de Moraes com 6.

Veja abaixo a relação de ministros, quem os indicou para o cargo, de quantos processos de impeachment são alvos, quem é o autor do pedido e qual a motivação:

Confira a íntegra das petições nos links abaixo:

Petição (SF) n° 3, de 2021
Petição (SF) n° 4, de 2021 
Petição (SF) n° 5, de 2021
Petição (SF) n° 6, de 2021 
Petição (SF) n° 7, de 2021
Petição (SF) n° 9, de 2021

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Confira a íntegra da petição no link abaixo:

Petição (SF) n° 8, de 2021

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Confira a íntegra da petição no link abaixo:

Petição (SF) n° 10, de 2021

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Confira a íntegra da petição no link abaixo:

Petição (SF) n° 11, de 2021

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Por que esses pedidos de impeachment têm se tornado mais frequentes?

O problema pode estar no desgaste institucional do STF. O STF vem atuando cada vez mais politicamente (de forma parcial), com impacto e repercussões que extrapolaria seu papel institucional.

Algumas posições parecem menos interpretação da Constituição e mais atos casuísticos que atenderiam ao gosto da época, perceba: a decisão quanto à competência da justiça federal de julgar Lula; a questão da suspeição de Moro; a questão do deputado Daniel Silveira; a instalação atípica do inquérito sobre as FakeNews; e atos Antidemocráticos – todos questionáveis de alguma forma.

Os ministros em alguma medida passam a ser percebidos não como agentes imparciais e sim como atores parciais na cena política. Quando os ministros cruzam o rubicão dão margem para que a opinião pública questione suas decisões não no âmbito jurídico, mas no âmbito político.

Não creio que qualquer ministro sofrerá impeachment num curto espaço de tempo, mas se a tendência de desgaste se mantiver, não causaria surpresa ver as atribuições do STF diminuídas ou os controles sobre ele ampliados. O movimento Acorda Senado já é um exemplo de iniciativa nesse sentido, buscando através de uma emenda à Constituição dar poderes ao Congresso Nacional de sustar atos do Poder Judiciário.

#LulaLivre: Huck? Ciro? Mandetta? Marina? Boulos? Amoedo? Uma terceira via é possível?

2 de abril de 2021

Ao antever o cenário eleitoral de 2022, é muito difícil fugir do prognóstico de que a disputa estará concentrada principalmente entre o ex-presidente Lula (ou um preposto seu) e o atual presidente Bolsonaro. A partir deste fato, a série de artigos abordou primeiro a análise sobre os dois (confira AQUI), porém, nosso sistema não é bipartidário e possibilita que um número maior de concorrentes entre nesta disputa e alimente o sonho de alguns pelo surgimento de uma terceira via.

Mas o que significa “terceira via”?

Antes de seguirmos, vale explicar o sentido da expressão “terceira via”. Ela é aqui utilizada para representar uma alternativa aos polos constituídos/majoritários, uma via para além da dicotomia esquerda e direita. Sendo assim, a categoria não abarca – necessariamente – o conceito de “terceira via” descrita pelo sociólogo Anthony Giddens ou pelo ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

Quais são as condições para o surgimento desta alternativa?

O Instituto Paraná Pesquisas divulgou agora em março uma consulta a respeito de como o eleitor se consideraria. O resultado foi o seguinte:

Os dados nos apontam principalmente duas coisas: 1) os principais candidatos possuem um núcleo duro de apoio bastante consolidado, que pode ser suficiente para levá-los ao segundo turno. 2) mas, também nos mostram que os eleitores “não-apaixonados” representariam um contingente ainda maior (mais do que o dobro deles individualmente).

Além da falta de “paixão” nós temos outros catalisadores para o surgimento destas possíveis alternativas. São eles:

Frustração de cá: parte dos eleitores da centro-direita tiveram suas expectativas frustradas, quanto ao governo, em especial os lavajatistas, que de certa forma se surpreenderam com os movimentos de adesão ao centrão – indicação do Kassio Nunes Marques para a vaga no STF e o expurgo de Sergio Moro. Outros eleitores frustrados são os pró-mercado (vulgo farialimers), que não tiveram suas expectativas de privatizações e reformas atendidas.

Frustração de lá: já na centro-esquerda, a frustração ainda se mantém consistente com aqueles eleitores que já votaram no PT e se sentem traídos pela corrupção que permeou o governo, solapando o discurso de ética manifestado nos tempos de oposição. Outro grupo com rancores elevados é o de outras forças de esquerda que reclama da vocação hegemonista do PT, e só aceitaria a tal propalada frente ampla se ela fosse por eles capitaneada.

O PIB desembarcou?: dia 21 de março foi divulgada uma carta aberta intitulada “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo” (confira a íntegra da carta AQUI), assinada por mais de 500 pessoas, em especial economistas de prestígio, banqueiros e grandes empresários. Mesmo que o presidente não seja citado, as críticas à condução do governo ficam evidentes e transmitem um sinal claro: em havendo opção distinta e competitiva a terceira via pode receber apoio do grande empresariado, que hora já apoiou Bolsonaro.

Teremos uma terceira via?

Sergio Moro (enrolado com o STF e sobre quem escrevi um artigo inteiro que você confere AQUI), Ciro Gomes (que tenta se viabilizar como uma alternativa à Lula dentro da centro- esquerda), Luciano Huck (que segue indeciso se deixa a televisão e os negócios), João Doria (vencedor da guerra das vacinas, mas que precisa pacificar o PSDB), Amoedo (umas das grandes surpresas de 2018, mas que enfrenta problemas internos em seu partido, em especial com os deputados federais do NOVO), Marina Silva (tem dificuldade em sair do 1% de intenção de votos), Mandetta (enfraquecido depois do revés de Rodrigo Maia na disputa da presidência da Câmara dos Deputados) e Boulos (fortalecido pelo desempenho na disputa da prefeitura de São Paulo, disputa com Ciro a preferência da esquerda não petista) são os principais postulantes a protagonizar esta terceira via.

Todos eles enfrentam um grande desafio, caso pretendam construir esta frente ampla: alguém terá que ceder!

Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoedo, João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta assinaram conjuntamente um manifesto em prol da democracia (você confere a íntegra do documento AQUI), o que pode ser um primeiro sinal nesse sentido de união, mas para que esta alternativa seja viável é necessário reduzir a pulverização de nomes e alguns projetos pessoais precisam ser deixados de lado, tornando-se um grande obstáculo, pois demanda a superação de vaidades, por vezes intransponível na política.

Íntegra do “Manifesto pela Consciência Democrática”

2 de abril de 2021

Muitos brasileiros foram às ruas e lutaram pela reconquista da Democracia na década de 1980. O movimento “Diretas Já”, uniu diferentes forças políticas no mesmo palanque, possibilitou a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, a volta das eleições diretas para o Executivo e o Legislativo e promulgação da Constituição Cidadã de 1988. Três décadas depois, a Democracia brasileira é ameaçada.

A conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores.

Não há Democracia sem Constituição. Não há liberdade sem justiça. Não há igualdade sem respeito. Não há prosperidade sem solidariedade.

A Democracia é o melhor dos sistemas políticos que a humanidade foi capaz de criar. Liberdade de expressão, respeito aos direitos individuais, justiça para todos, direito ao voto e ao protesto. Tudo isso só acontece em regimes democráticos. Fora da Democracia o que existe é o excesso, o abuso, a transgressão, a intimidação, a ameaça e a submissão arbitrária do indivíduo ao Estado.

Exemplos não faltam para nos mostrar que o autoritarismo pode emergir das sombras, sempre que as sociedades se descuidam e silenciam na defesa dos valores democráticos.

Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE, sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA. Vamos defender o Brasil.

CIRO GOMES, EDUARDO LEITE, JOÃO AMOEDO, JOÃO DORIA, LUCIANO HUCK E LUIZ HENRIQUE MANDETTA.

O que é Centrão na política?

31 de março de 2021

O termo Centrão é comumente usado para designar um grupo de parlamentares que se unem para ampliar sua influência na Câmara Federal e no Senado. O termo não agrada muito aos parlamentares e dificilmente algum deles admite fazer parte desse grupo.

Severino Cavalcante, Eduardo Cunha, Rodrigo Maia e Arthur Lira representam esse grupo? O Centrão existe formalmente? Quais são os seus principais objetivos?

Dê o play e deixe o seu comentário.

#LulaLivre: e agora, Sergio Moro?

26 de março de 2021

Tenho analisado nesta série de artigos quais as repercussões no cenário eleitoral de 2022 em razão do retorno da elegibilidade de Lula e, mais recente, da suspeição de Sergio Moro ao conduzir o julgamento. No primeiro texto abordei os impactos para o próprio Lula, e no segundo você conferiu que avaliei os desdobramentos para o presidente Jair Bolsonaro. Já neste artigo abordarei as possibilidades políticas de Sergio Moro.

Antes de avançarmos, quero reforçar que a análise é feita apenas no campo político, não abordarei minucias jurídicas nem a (i)legalidade delas.

Moro construiu inicialmente uma carreira de perfil tecnocrata com posições alcançadas via concurso público, Juiz Federal e professor universitário (UFPR), que lhe garantiam um grau enorme de autonomia. Se antes sua atuação tinha repercussão política, seus atos poderiam seguir uma estratégia de interação com os atores políticos, mas ele estava confortavelmente distante do palco político propriamente dito.

Quando Moro optou em deixar a magistratura e assumir o Ministério da Justiça, cruzou a linha e se tornou, de fato, agente político, tendo que aprender a construir alianças, fazer concessões e receber críticas (sem a toga por proteção e o “cumpra-se” por ferramenta).

Como fica o cenário político para Sergio Moro?

Ataques: desde o início da operação Lava-jato, Sergio Moro sofre inúmeros ataques daqueles que se sentem ameaçados pelas investigações ou dos que enxergavam exageros em sua conduta, entretanto, o juiz sempre contou com um substancial apoio de setores da mídia e da sociedade, o que lhe permitiu seguir adiante, construindo e reforçando sua imagem de combatente da corrupção. Contudo, o que Moro enfrenta agora é muito diferente. O refluxo de suas ações é intensificado por um número maior de opositores diretos ou indiretos (Lulismo + Bolsonarismo + Centrão + STF).

Mídia: parte do sucesso da Lava-jato e de Sergio Moro se deve ao amplo apoio recebido da mídia, como já dito. Ele, inclusive, cita a importância em seu artigo a respeito da operação mãos limpas, porém, este apoio arrefeceu por alguns motivos:

1) Medo que alguns jornalistas têm de serem ligados a ele e ao caso da vaza-jato (o ex-juiz é acusado de articular junto à imprensa o vazamento de informações estratégicas sobre as operações);

2) Desejo de ver enfraquecidos os problemas jurídicos do ex-presidente Lula (por perceber nele o melhor concorrente contra Jair Bolsonaro);

3) Alinhamento com o presidente (que espera vê-lo fora do páreo, diminuindo assim a concorrência pelos votos do antipetismo);

4) Parte da mídia ficou chocada com a explicitação dos métodos utilizados por Moro.

Com isso, sobrou um espaço muito menor de manobra com a mídia, ficando apenas os “lava-jatistas raiz”.

Eleitores: Moro frequentemente aparece como terceiro colocado nas pesquisas, o que faria dele um ótimo candidato para os defensores de uma terceira via, mas as perguntas que devem ser respondidas são: Tendo em vista que, parte da direita enxerga Moro como traidor de Jair Bolsonaro, e parte da esquerda o vê como justiceiro togado, ele conseguirá agregar eleitores dos polos? Terá a habilidade de construir alianças para superar esses vetos?

Votos de Bolsonaro: a pesquisa do Ipec (apresentei no primeiro artigo) aponta que o ex-juiz é quem compartilha o maior número de eleitores com o presidente (algo próximo dos 13%). Significa, portanto, que o maior beneficiado pela ausência de Sergio Moro das eleições é o atual presidente.

Legado: com a saída do Ministério da Justiça, o fim da força tarefa da Lava-jato, a suspeição nos casos do ex-presidente Lula e com as ameaças de ser processado por conta de sua conduta, o ex-juiz fica numa posição cada vez mais acuada. Outrossim, estes mesmos ataques podem servir de mola propulsora para uma eventual candidatura, que além de viável, serviria para defender um legado.

Paladino ou Batman? 57% dos entrevistados pelo Datafolha (março/2021) consideram que Moro agiu corretamente ao condenar o ex-presidente Lula (pesquisa feita antes da decisão do STF sobre a sua parcialidade). O que significa? Que o debate jurídico, tanto da suspeição do Juiz Sergio Moro, quanto da incompetência da 13ª vara federal, inflama os juristas e o judiciário (chegando a dividir de forma acalorada entendimentos no STF) e ao mesmo tempo é tão distante da realidade cotidiana que acaba por reforçar aos leigos a sensação de impunidade.

Talvez a roupa de paladino da justiça não seja mais adequada ao ex-juiz, mas com certeza a imagem de combatente da justiça a qualquer preço (Batman) ainda pode embalar projetos eleitorais.

Resta-nos saber se a experiência em Brasília municiou o ex-juiz de instrumentos e aliados para construir sua candidatura ou se foi um processo tão traumático que o manterá definitivamente afastado desta arena. Ser um ótimo jogador em um campo (judiciário) não garante sucesso em outro (política). Quem aqui se lembra do Pelé cantando?

Sigamos pensando estrategicamente!

#LulaLivre: e agora, Jair Bolsonaro?

19 de março de 2021

No artigo anterior abordei alguns aspectos analíticos das possibilidades do ex-presidente Lula no pleito de 2022, após analisar os movimentos ocorridos no STF – a anulação das condenações de Lula, somadas com a possibilidade da suspeição de Moro. Neste texto vamos dar uma olhada no principal concorrente do pleito de 2022, segundo as pesquisas: Jair Bolsonaro.

A entrada de Lula no cenário, agora elegível, afeta bastante o jogo político do atual presidente, pois, diferente de alguns de seus apoiadores, que consideram Lula um adversário fácil de ser batido, Jair Bolsonaro tem clareza que Lula é mais competitivo do que um outro candidato genérico do PT.

Como fica o cenário político de Jair Bolsonaro nesta conjuntura?

– Histórico: no Brasil, nenhum presidente que postulou a reeleição deixou de ser bem-sucedido, nem mesmo Dilma pós manifestações de 2013. Ainda, 2022 pode ser também a primeira vez que um ex-presidente enfrentaria um presidente em candidatura de reeleição.

– Máquina: a capilaridade administrativa do Governo Federal e o acesso ao orçamento (que tende a atrair prefeitos e deputados) são elementos que o então candidato de 2018 não podia contar e agora pode, o que, convenhamos, não é pouco.

– Clareza: com Lula na disputa fica mais claro quem será seu principal opositor, permitindo ao presidente antecipar movimentos e conquistar eleitores mais moderados (já passou inclusive a usar máscara e adotar medidas pró-vacina), pois os mais radicais à direita tendem a aderir quase que automaticamente pelo sentimento de antipetismo.

– EUA: com a derrota de Donald Trump, além de perder o apoio (mesmo que simbólico) dos EUA, o presidente também amarga um prenúncio ruim, pois ambos compartilhavam agendas e métodos em comum. O revés de um pode significar um caminho mais árduo para o outro.

Força política: seus aliados ganharam as mesas diretoras da Câmara Federal e do Senado. Os partidos do centrão que participaram da vitória da direção do Congresso também foram vitoriosos nas eleições municipais. Dos 14 partidos que tiveram acréscimos de prefeituras em 2020 (em relação a 2016), 9 estavam no bloco de apoio ao deputado Arthur Lira, esse número sobe para 10 se considerarmos o DEM, já que mesmo não formalizando adesão ao bloco, liberou seus deputados para votar no candidato do governo o que inclusive gerou uma crise com o deputado Rodrigo Maia.

Bolsonaro está derrotado?

Para aqueles oposicionistas mais animados, que sistematicamente afirmam que o presidente já está derrotado, vale uma dose redobrada de cautela, pois ele é, antes de mais nada, um sobrevivente, conseguindo reverter situações desfavoráveis e tirar proveito delas. Exemplos: em 2018, quando sem coligação partidária cravaram sua inviabilidade eleitoral; nas acusações em relação ao Queiroz/Flávio, cujas investigações vem perdendo força; na saída do ministro Mandetta (incluindo a forma de gerir o enfrentamento a pandemia); na saída do ministro Moro; e na questão do auxílio emergencial.

Alguns analistas já foram categóricos em cravar a sua derrocada, mas ele sempre conseguiu manter seu núcleo duro de apoiadores unidos e aquecidos. A própria pesquisa DataFolha, divulgada em 17/03/2021, mostra uma estabilidade na faixa de 30% de favoráveis.

Outro aspecto importante na distinção entre Lula e Bolsonaro é a pauta de costumes que pode ser determinante para alguns setores. Os evangélicos são proporcionalmente o setor onde o apoio ao presidente alcança os melhores percentuais. Em 2018, por exemplo, mais de 70% (segundo pesquisa do DataFolha de 18/out/2018) declararam que votariam nele no segundo turno.

Devemos estar atentos a um outro fator que tende a impactar o pleito de 2022 e se converter em vantagem para o presidente: a questão do comparecimento, o votar de fato. Por ter uma postura aguerrida e seu eleitor ter um vínculo emocional tão intenso com ele, a motivação de comparecer para votar é maior. Claro que por gerar sentimentos tão fortes a rejeição tende a ser grande fator motivacional de comparecimento também para a oposição, algo que também vimos nas eleições americanas.

Esta análise não termina aqui. Temos ainda outros atores para acompanhar: o papel do ex-juiz Sérgio Moro e de outros possíveis competidores, como Huck, Mandetta, Marina, Ciro e etc.

Não se enganem: por mais que o cenário esteja ficando mais delimitado, nada ainda está solidificado.

Até a próxima semana!

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