CPI: podem estar querendo nos manipular através do excesso de informação?
Publicado em 4 de junho de 2021Categorias: Economia, Política, Posts do Blog

Após o término do BBB, outro “reality show” tem chamado nossa atenção: a CPI da COVID – uma Comissão Parlamentar de Inquérito formada para apurar se houve falhas por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia. Eu já expliquei num vídeo curto o que é uma CPI (você pode assistir AQUI) e pretendo abordar de forma mais aprofundada os desdobramentos políticos que devem decorrer dela. O tema que abordo aqui é de cunho comunicacional, ou melhor, informacional, pois tudo que tem sido feito na CPI está diretamente ligado com o impacto que irá gerar nas comunicações, tanto de um a lado (pró-governo) quanto de outro (oposição).
Estamos sofrendo uma Infodemia?
A avalanche informacional e monotemática gerada pela CPI tem inundado nossas redes sociais, telefones, televisões, jornais e revistas. Informações com qualidade bastante diversa, desde mentiras explícitas até dados baseados em evidências científicas e, entre estes dois polos, inúmeras nuances.
Esta avalanche caracteriza a “infodemia” – uma difusão de grande quantidade e variedade de informações de credibilidade diversa que prejudica o reconhecimento e a compreensão dos fatos reais. É importante ter claro que ela não ocorre de forma espontânea, normalmente é produzida e alimentada por grupos de interesse que se beneficiam dela (governos, empresários, grupos políticos, até mesmo outros países) e procuram desestabilizar politicamente um adversário, enfraquecer a imagem de um país e de sua economia ou simplesmente vender esse ou aquele fármaco ou produto.
Esta crise tornou mais evidentes alguns mecanismos pelos quais a infodemia funciona:
– Gatilhos emocionais: atua em situações de emoções extremas, ansiedade e medo no caso da saúde, paixões e hooliganismo no caso de eleições;
– Efeito manada: para que a infodemia funcione é necessário criar um sentimento de grupo e pertencimento em apoio a determinada mensagem, geralmente potencializado por robôs nas redes sociais;
– Mensagens de fácil compreensão, com encadeamento lógico e simples, causando proliferação de fakenews e desinformação: normalmente as mensagens se valem de memes ou frases de efeito de compreensão quase que imediata, com capacidade restrita de verificação e que citam algumas vezes cientistas desconhecidos, podendo induzir a percepção de conspirações.
Estes elementos caracterizam uma infodemia, mas são típicos também das PsyOps, as chamadas guerras psicológicas muito utilizadas pelo Exército Americano e pela CIA. É uma estratégia de inserir muito ruído para desviar a atenção das pessoas da comunicação verdadeiramente relevante. A preocupação com a desinformação é tão grande que os maiores geradores de conteúdo – google, facebook e twitter – já adotam estratégias de checagem de informações e de alertas aos seus usuários.
A CPI continuará gerando, explicitando e repercutindo uma grande quantidade de informações. Resta-nos estar atentos para que não sejamos peça/parte na estratégia política ou de negócios de ninguém. Não nos iludamos, ninguém ali é ingênuo, nem os senadores nem os depoentes.
Nesta era de abundância de informação é nossa responsabilidade separar o joio do trigo, filtrar as informações recebidas e ter o senso crítico sempre ativo.
Sobre o Autor: Jeulliano Pedroso
É Sociólogo (UFPR), mestre em Antropologia Social (UFPR) e especialista em ciência política (IUPERJ). Estudou economia e estratégia na London School of Economics and Political Science (LSE). É Analista-Chefe da Brasil Sul Inteligência e ex-comentarista político do Jornal da Manhã – Jovem Pan Paraná.
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